Castelo

 

A construção do Castelo

No século XII, em 1135, foi mandado construir de raiz por D. Afonso Henriques, entre Coimbra e Santarém, um castelo como estratégia de defesa da fronteira sul do Condado Portucalense. Surgiu então o imponente Castelo Medieval de Leiria, no alto de uma elevação rochosa, um pouco ao sul da confluência do rio Lis com o rio Lena. A construção dos castelos em locais de cota superior à das povoações permitia:
– maior facilidade em visualizar o que se passava nas redondezas;
– mais tempo para preparação da defesa em situação de ataque;
– o arremesso de pedras e outras armas contra os adversários;
– vantagem psicológica.

Fazendo um mapa topográfico da região do Castelo de Leiria e traçando as curvas de nível [1], verifica-se que o Castelo encontra-se no ponto mais alto do Centro da Cidade com uma altitude que ronda os 86 metros.

A torre de Menagem do Castelo foi mandada construir por D. Dinis e só foi finalizada no reinado de D. Afonso IV, de acordo com inscrição existente numa pedra no exterior da torre. Tal como as restantes muralhas do Castelo, foi finalizada com merlões quadrangulares. Esta torre tem cota aproximadamente de 127 m e tem 17 m de altura.

Há quem diga que o castelo apresenta planta poligonal irregular, embora na verdade as muralhas tenham um aspeto oval. Os castelos eram construídos em estruturas predominantemente circulares exatamente para facilitarem as suas funções declaradamente defensivas. Para além de se evitarem os recantos que dificultariam a defesa, sabe-se que, de entre as curvas fechadas do plano com o mesmo comprimento, a que delimita a região de maior área é a circunferência, sendo por isso o círculo o conjunto de área máxima (Problema de Dido [2]).

O Castelo de Leiria foi das primeiras fortificações a erguer o pendão de Portugal. O Brasão na porta norte tem dois escudos na horizontal, o que indica que foi colocado em época anterior a D. João II, pois este rei ordenou que os escudos do brasão de Portugal estivessem todos na vertical.

                          

No início do século XIX, em consequência da Guerra Peninsular, as tropas francesas provocaram extensos danos à cidade e aos seus monumentos, nomeadamente na Sé e no Castelo. O Castelo ficou em ruínas, perdendo assim o seu valor militar, tendo sido posteriormente abandonado. Já no final do século XIX, por iniciativa da Liga dos Amigos do Castelo, o arquiteto Ernesto Korrodi elaborou um projeto de restauro das ruínas do Castelo.

Na base das torres da porta da Albacara, porta de entrada de madeira para o castelo, encontram-se algumas lápides com inscrições romanas, oriundas da antiga civilização de Colipo, que existiu perto dos Andreus (São Sebastião do Freixo).

No Largo de São Pedro encontra-se a Capela de São Pedro, construída no século XII com arquitetura religiosa, românica e barroca. A porta de entrada contém vários arcos de volta perfeita [3]. Esta capela funcionou como Sé até 1573, a  seguir à igreja de Nossa Senhora da Pena, e constituiu também o primeiro teatro da cidade de Leiria.

A Torre Sineira

Construída em 1770, ergue-se sobre uma das antigas torres medievais da Porta do Sol do Castelo a Torre Sineira da Sé, em estilo barroco. É quadrangular e no topo é constituída por uma pirâmide, tendo no topo um anjo como cata-vento.

Em tempos funcionou como prisão. Ainda há quem use em Leiria a expressão “Vais ouvir os sinos da Sé” que significa “Vais para a prisão”.

A construção da Torre Sineira foi projetada para um local mais alto do que o edifício da Sé para que a população do Arrabalde da Ponte também conseguisse ouvir os sinos e, consequentemente, o bater das horas.

Recentemente, em 2014, foram efetuadas intervenções arqueológicas com vista à reabilitação da torre sineira. Nas escavações realizadas foi encontrado um relógio no pavimento da zona de acesso à casa do sineiro. Os relógios encontrados junto a torres sineiras era usados pelos sineiros para tocar os sinos às horas certas.

Os sinos chamavam a população para festas, funerais, catequese e outros atos religiosos. Os sinos da torre sineira alertavam ainda para incêndios. Na Igreja do Espírito Santo existia uma tabela de toques para que a população soubesse se o som tocado pelos sinos traduzia a existência de fogo na cidade ou nas redondezas.

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Referências:

Basílio, Lília. 2014. Intervenção de Arqueologia Preventiva. Reabilitação da torre sineira da Sé de Leiria, Relatório final de trabalhos arqueológicos.

Cabral, J. 1993. Anais do Município de Leiria, Volume 1, 2.ª Edição da Câmara Municipal de Leiria.

Património Classificado e em vias de Classificação
http://www.cm-leiria.pt/uploads/document/file/801/44298.pdf

Artigo do jornal “Região de Leiria”, 23 de dezembro de 2011, https://www.regiaodeleiria.pt/2011/12/torre-da-se-os-sinos-de-leiria-tem-historias-para-contar-fotogaleria/

Pinheiro, Cristina Santos. 2010. O percurso de Dido, rainha de Cartago, na literatura latina. Coimbra: [s.n.]. ISBN 978-989-8281-35-7.

Pinto, L., F. 2013. Funcionamento e Traçado do Relógio de Sol, Repositório da Universidade Lusíada

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[1] Linhas que unem pontos de igual altitude; a sua representação é efetuada no plano.

[2] O problema de Dido consiste em saber, a partir de uma curva de comprimento finito, qual é a forma que esta curva deve ter de modo que a área limitada por si seja máxima.

A princesa fenícia Dido é a primeira personagem na literatura que apresenta solução para este problema quando, segundo a lenda, negoceia ficar com toda a terra que conseguir abranger usando apenas a pele de um único boi. Para isso, mandou cortar a pele em tiras estreitas e com essas tiras formou uma linha que usou para cercar uma grande área circular de onde nasceu a cidade de Cartago.

[3] Arcos que formam um semicírculo perfeito na parte superior.