A construção da Sé
A elevação de Leiria a diocese deu-se a 22 de maio de 1545 por bula papal de Paulo III, decretando a igreja de Santa Maria da Pena como Sé Catedral [1]. A 13 de junho do mesmo ano, D. João III eleva Leiria à categoria de cidade.
O primeiro bispo da diocese de Leiria foi Frei Brás de Barros. Durante o tempo em que este esteve à frente da diocese o estatuto de catedral foi transferido da igreja de Santa Maria da Pena para a igreja de São Pedro, no entanto, também esta igreja veio a revelar-se inadequada para a função. Assim, em 1546 Frei Brás de Barros fez diligências junto de D. João III [2] para que se construísse uma igreja “conueniente em lugar homde commodamente e com menos opresam” (Jorge, V. et al., 2005) os fies pudessem assistir aos ofícios litúrgicos.
Em 1550 dá-se a colocação da primeira pedra, sendo as obras levadas a cabo pelo arquiteto Afonso Álvares que chegou à cidade em julho de 1551 com a planta da nova Sé. O início da construção efetiva da Sé deu-se em 1559. Esta construção passou por várias fases a salientar [3]: 1570 inicia-se a construção do corpo do templo; 1571 conclusão do corpo do templo; 1572 conclusão da frontaria; 1573 conclusão do telhado da Igreja. A Sé terá sido sagrada e concluída no seu essencial [4] em 1574.
Como uma das consequências do terramoto de 1755, o alçado principal foi parcialmente destruído tendo ocorrido também graves danos no tramo adjacente à entrada. Os trabalhos de restauração iniciaram-se logo após o terramoto, era bispo Frei João da Porta (1746-1760), e foram continuados pelo seu sucessor, Frei Miguel Bulhões e Sousa [5].
A decadência do bispado de Leiria teve na sua origem as invasões francesas à cidade leiriense e as lutas civis, datando a sua extinção de 1882. Contudo, a diocese é restabelecida em 1918, sendo designada de “Leiria-Fátima” desde 1984.
A Sé de Leiria é desde novembro de 2014 monumento nacional [6], sendo englobado nesta classificação o claustro, o adro envolvente, a torre sineira e a casa do sineiro. “A Sé de Leiria é um edifício sóbrio, cujo sentido da harmonia resulta essencialmente do cálculo matemático das suas proporções, em que a diagonal dos tramos das naves laterais é igual à largura da nave central e metade da largura desta mais a largura da nave lateral é igual à diagonal dos tramos laterais. Salienta‐se, como particularidade, a ausência de torre sineira no edifício. Antes da construção dos cemitérios, a Sé foi a principal necrópole da cidade.” (“Património Classificado e em vias de Classificação”).
Marcas com significado
Do lado direito da porta principal da Sé de Leiria podemos encontrar esta marca que pertence à Rede de Nivelamento Geométrico Alta Precisão (RNGAP). Esta infraestrutura constitui um sistema de altitudes rigorosamente determinadas que permitem a referenciação, com alta precisão, da altimetria de qualquer ponto do território nacional, sendo assim fundamental no apoio aos mais diversos tipos de projetos: vias de comunicação, obras de arte, planos de pormenor, construção de barragens, etc.
O Instituto Geográfico Português foi criado em 2002 sucedendo ao Centro Nacional de Informação Geográfica e ao Instituto Português da Cartografia e Cadastro, organismos que foram então extintos. É este o organismo responsável pelos sistemas geodésicos de referência de Portugal. No âmbito da Geodesia, uma das competências é a manutenção e observação da RNGAP.
A RNGAP é materializada por mais de 4500 marcas distribuídas pelo território nacional. Estas marcas percorrem cerca de 4000 km ao longo de 29 linhas. Cada uma destas linhas subdivide-se em várias secções que unem marcas principais (NP) através de marcas intermédias. Para garantir a estabilidade e preservação das NP estas são colocadas, na sua maioria, em locais de destaque das localidades.
É este o caso da NP 354 que se encontra “cimentada na Sé de Leiria, num nicho, ao lado direito da porta principal” [7].
Esta marca faz parte da linha 03-00 Cascais – Albergaria e secção 14-00 Leiria – Monte Redondo estando-lhe associado como valor da altitude ortométrica 31,2900 m [8].
A marca fundamental da RNGAP está situada junto ao marégrafo de Cascais, assegurando desta forma a ligação da rede ao datum altimétrico [9].
No espaço exterior à Sé de Leiria, já próximo da estrada, debaixo de uma árvore podemos encontrar um bebedouro que incorpora um relógio de sol [10].
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Referências:
Jorge, V., Serrão, V., Gomes, S., Cristino, L. 2005. Catedral de Leiria. História e Arte, Leiria.
Património Classificado e em vias de Classificação
http://www.cm-leiria.pt/uploads/document/file/801/44298.pdf
Pinto, L., F. 2013. Funcionamento e Traçado do Relógio de Sol, Repositório da Universidade Lusíada.
Santos, C., M. 2009. As Sés Joaninas: arquitectura episcopal portuguesa na segunda metade do século XVI, Coimbra.
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[1] Templo principal de uma diocese onde o bispo tem a sua cátedra ou sede.
[2] As Sés joaninas, mandadas edificar por D. João III, são a Sé de Miranda do Douro, a Sé de Leiria e a Sé de Portalegre.
[3] Algumas destas datações podem encontrar-se no teto da Sé.
[4] Ausência da sacristia e de outras dependências.
[5] Em 1810, devido às invasões francesas, um grave incêndio causou alguma destruição na Sé e essencialmente no Paço episcopal, perdendo-se para sempre muito do espólio e documentação escrita referente à diocese.
[6] Foi o quarto monumento nacional classificado no distrito, depois do Castelo de Leiria, a Capela de S. Pedro e o Menino do Lapedo.
[7] Descrição que consta dos arquivos da secção da Geodesia do Instituto Geográfico Português.
[8] Informação cedida pela secção da Geodesia do Instituto Geográfico Português.
[9] O datum altimétrico de Portugal é o nível médio das águas do mar observadas no marégrafo de Cascais.
[10] A passagem do tempo pode ser medida através de um relógio de Sol, recorrendo à observação da posição do Sol. Os relógios de sol mais comuns têm uma superfície plana que funciona como mostrador, com linhas marcadas que indicam as horas, e onde é projetada a sombra de um pino (designado por gnómon) que funciona como um ponteiro de horas.
A conversão do tempo solar em arcos cujas linhas de divisão vão marcar as horas diurnas é feita através da correspondência de uma amplitude de 15⁰ a 60 minutos. Assim, o arco diurno tem aproximadamente a amplitude de 180⁰, embora este seja maior ou menor consoante estejamos no verão ou no inverno, respetivamente.
A hora dada por um relógio de sol nem sempre corresponde à hora “certa” devido à inclinação do eixo terrestre e à forma elítica da órbita da Terra. Os desvios existentes podem ser explicados por uma função bidimensional designada por “Equação do tempo” que mede a diferença entre a posição real do sol e a posição que o sol teria se o eixo terrestre fosse perpendicular à eclítica (círculo máximo descrito pelo Sol na esfera celeste e cujo plano se encontra inclinado cerca de 23,5º em relação ao plano do equador celeste) e se a órbita terrestre fosse circular. Ou seja, a Equação do tempo mede a diferença entre o tempo solar aparente e o tempo marcado pelos relógios mecânicos que traduzem o tempo solar médio.