Exposição Geral “12 Conversa em torno de 12 Projectos em Cerâmica”

A Exposição

Esta exposição mostra 12 Projectos em cerâmica de autores formados nos cursos de Licenciatura em Design Industrial e Mestrado em Design de Produto da ESAD.CR.
Procurou-se evidenciar, a partir de projetos desenvolvidos em contexto escolar, a diversidade de abordagens existentes na ESAD.CR e refletir sobre a questão da identidade cultural nos produtos cerâmicos. A cerâmica é matricial na fundação da Escola das Caldas e tem constituindo ao longo dos anos um profícuo campo de experimentação, reflexão e produção, ocupando frequentemente um lugar central na produção e investigação de alunos dos diversos cursos da escola, entre os quais destacamos o Mestrado em Design de Produto.
A questão cultural e identitária, ligada a um território é trabalhada de modos distintos por alguns autores presentes nesta exposição. Nas jarras da série Caruma, Eneida Tavares analisa e incorpora as suas raízes identitárias ligadas a Angola e Portugal procurando fazer, através da fusão de matérias e técnicas provenientes de geografias distintas, uma miscigenação cultural. No projeto Barro, Francisca Branco revisita as suas origens, fazendo uma recolha de técnicas, matérias e processo de transformação de alimentos pertencentes ao património material e imaterial de Trás-os-Montes, Minho e Alentejo. Barro reúne um conjunto de objetos utilitários que, segundo Francisca, procuram ser “um apelo à memória”, proporcionando aos utilizadores vivências singulares durante a confecção e consumo de alimentos, cujos sabores são temperados pela mineralidade do barro. Estes objetos permitem relacionarmo-nos com a cultura e património dos territórios visitados, nomeadamente a “olaria de cheiro” alentejana, assim chamada porque a água e os alimentos ganham sabores conferidos pelo material usado no fabrico de loiça. Em Animais de Companhia, Filipa José é influenciada pela tradição naturalista da cerâmica das Caldas da Rainha, nomeadamente o legado de formas zoomórficas. Filipa modelou uma série de animais em cerâmica, por vezes associados a objetos utilitários. É proposta uma atualização das linguagens tradicionais da cerâmica das Caldas, ao mesmo tempo que questiona e analisa a pertinência deste tipo de objetos inseridos no território do design. As figuras com a aparência de monstros, por vezes fantásticas e grotescas, usadas por Marco Ferreira na construção de taças e pequenas composições escultóricas ligam-se, de algum modo, à memória e tradição do figurado de Barcelos. Algumas figuras são próximas dos monstros da mitologia popular, cujas formas são modeladas de modo a conterem endiabradas referências pagãs e divinas.
Há peças que se caraterizam por serem micro sistemas que propõem práticas relacionadas com a sustentabilidade ambiental. O arrefecimento da água verificado nas tradicionais bilhas de barro não vidrado é provocado por um fenómeno semelhante à transpiração (migração de partículas de água do interior para o exterior através de capilaridade). Este fenómeno foi usado por Ana Lisboa e Sara Silva para devolver um sistema de refrigeração de alimentos conformado em barro vermelho que possibilita, segundo as suas autoras, preservar frutas e legumes, sem consumo de energia. Outro projeto com preocupações ambientais é o sistema desenvolvido por Marco Balsinha que permite fazer vermicompostagem em contextos domésticos de pequena dimensão. Ao fazer diversas peças em cerâmica com formas que nos lembram a parte superior de jarras, Rita Martins promove o reaproveitamento de embalagens. Em Leonor, as peças de cerâmica colocadas sobre contentores reaproveitados permitem múltiplas combinações formais, na construção de jarras de flores. Liliana Gouveia e Liliana Santos conceberam um contentor para líquidos que tira partido da condutividade térmica da cerâmica. Quando cheio, com líquidos quentes, Winter Cup torna-se um pequeno aquecedor permitindo também, segundo as suas autoras, “estimular músculos”. Outro conjunto de objetos caracteriza-se pelo modo como foram feitos, os seus autores pensaram e desenvolveram processos de fabrico geradores de resultados singulares. O trabalho de Rita Frutuoso faz a fusão entre matérias cerâmicas e alimentares, procurando mostrar analogias entre cerâmica e culinária. Os alimentos que integram a peças confundem-se frequentemente com estas. O seu uso implica uma experiência sensorial, o paladar, assim como uma mutação na forma e aparência do objecto.
Em Moldes Mutantes, Victor Agostinho concebeu um conjunto de moldes composto por peças que mudam de configuração, permitindo gerar formas diferentes a partir de um mesmo molde; peças irrepetíveis em cerâmica. Em Terra, João Margarido fez uma recolha de terras em várias zonas do país, com a intenção de criar ligações ao território. O resultado desta recolha foi usado como matéria na construção de peças e desenvolvimento de vidrados cerâmicos, que produzem texturas e cores de raro efeito. Com este trabalho, Margarido obteve pigmentos de baixo custo com potencial de aplicação industrial, e um conjunto de objetos que, segundo ele, são “uma memória da Natureza”. Vera Santos concebeu blocos de gesso que, por via da capilaridade do material, impregnou com cores. Estes blocos com uma policromia intensa e diversificada, são grossos riscadores para desenhar em paredes e chão.
A ideia de identidade ligada a um território geográfico e à cultura de um lugar, relacionada com o património material e imaterial, é claramente identificável no trabalho de alguns dos autores representados nesta exposição. Noutros casos parece-me que a ideia de identidade cultural poderá ser formulada a partir da referência a uma ideia de escola, às práticas e abordagens pedagógicas desenvolvidas, e à repercussão desse trabalho no contexto regional ou mesmo nacional. A ESAD.CR tem hoje uma identidade clara e facilmente reconhecida no contexto nacional, para a qual os projectos desenvolvidos em cerâmica têm contribuído de modo marcante.
As práticas pedagógicas implementadas nos cursos da área do design de produto, baseadas na experimentação, materialização e construção de protótipos, têm muitas vezes produzido resultados que geram notoriedade e retorno financeiro para os autores, criando igualmente os alicerces de uma atividade profissional sustentável do ponto de vista económico. A Escola das Caldas e o trabalho de alguns dos seus ex-alunos têm contribuído de modo determinante para renovação da cerâmica das Caldas da Rainha.

Fernando Brízio

 

Exposição Geral

 

Winter Cup – liliana Gouveia

 

Leonor – Rita de Almeida Martins

 

Caruma – Eneida Tavares

 

Uroboro – Marco Balsinha

 

Terapia – Vera santos

 

Terra – joão Margarido

 

Natural cooler – ana lisboa e sara silva

 

barro – francisca branco

 

imaginário – Marco ferreira

 

animais de companhia – filipa josé

 

moldes mutantes – VÍTOR agostinho

 

fusão – rita frutuoso

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