Exposição Geral “Biblioteca de um ceramista industrial (1880-1980)”

A Exposição

 

É na segunda metade da década de 1880 que Portugal se começa a dotar de uma rede de estabelecimentos vocacionados para o ensino industrial. A iniciativa pertenceu a dois ministros das Obras Públicas, António Augusto de Aguiar (1884) e Emídio Navarro (1888). Pela reforma do primeiro, foram criadas escolas de desenho industrial em diversos centros de produção industrial, como Guimarães, Porto, Covilhã, Coimbra, Torres Novas, Tomar, Caldas da Rainha, Lisboa. Através de algumas das suas embaixadas europeias, o Governo abriu então concursos para recrutamento de professores estrangeiros. O aprofundamento deste modelo de aprendizagem, com a criação de escolas industriais, a par das escolas de desenho industrial, e a ampliação da rede prosseguiram na década de 1890.

Este movimento corresponde a um intuito reformista do ensino público como instrumento de modernização do país e a um reconhecimento de que a competitividade da indústria portuguesa obrigava a repensar a formação técnica operária nas modalidades adequadas à produção industrial moderna, com a sua crescente utilização de maquinaria da revolução industrial. Se a manufactura tradicional continuava a basear-se num modelo de aprendizagem assente na transmissão de saberes operada de mestres para aprendizes no quadro da oficina, as novas indústrias implicavam formações especializadas e domínio de saberes obtidos com recurso ao desenho, ao cálculo, à experiência sistematizada.

O conjunto de conhecimentos técnicos indispensáveis a uma competente gestão da actividade industrial é agora corporizado num instrumento próprio: o manual. No século XIX, acompanhando a disseminação da escolaridade, teve início a difusão dos manuais escolares. Mas o conceito de manual estendeu-se a outras áreas do conhecimento, designadamente a ciência e a técnica. O que singulariza o manual é o intuito generalista e a preocupação com a divulgação. Os manuais recolhem os elementos essenciais sobre um determinado tema e procuram apresentá-lo sob uma forma didáctica. Os autores de manuais pretendem que eles sejam úteis aos seus utilizadores, na resolução de problemas que se lhes deparem num determinado ramo de actividade.

Uma fórmula de concretizar este intuito que obteve larga aceitação em Portugal foi a edição de colecções, séries de opúsculos que perseguiam a finalidade de sistematizar conhecimentos úteis. A designação mais popular dessas séries foi a de Biblioteca, e que obteve impacte mais assinalável foi a Biblioteca de Instrução Profissional criada e dirigida por Tomás Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael e Columbano. Publicou, desde 1904, quase meia centena de títulos, tendo logrado, a partir de 1910, edição simultânea em Portugal e Brasil. A Biblioteca de Instrução dedicou à cerâmica três volumes, sendo um da autoria de Joaquim de Vasconcelos, outro de Josef Füller.

O objectivo da investigação que originou a presente exposição procura resposta a esta pergunta: de que manuais se socorreram aqueles que organizaram a produção industrial cerâmica moderna nas Caldas da Rainha? A investigação seguiu um caminho: tentar perscrutar a biblioteca imaginária dos industriais e técnicos de cerâmica desde o início da indústria moderna (1884: a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha) até à criação do Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica das Caldas da Rainha  e da Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha (1984: CENCAL: 1988: ESAD).

João Serra

 

 

 

Exposição Geral

 

*Fotografias de Pedro Cá

   *Fotografias de Pedro Cá

 

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