Leiria recorda Eça de Queirós e Zeca Afonso

Eça de Queirós e a sua ligação à cidade de Leiria foi o tema da rúbrica ‘5 autores| 5 conversas| 5 dias’ de sábado, dia 2 de Junho. O espaço contou com a presença de dois investigadores da obra queirosiana, Ana Margarida Vieira e Orlando Cardoso.

Ana Margarida Vieira, que se prepara para publicar a sua tese de doutoramento sobre «As vertentes do olhar na ficção queirosiana», assumiu que “é um motivo de orgulho estar a defender um autor que levou o nome de Portugal a todo o mundo”. Já Orlando Cardoso, que considera que “Leiria deve orgulhar-se por ter tido Eça de Queirós dentro dos seus muros”, lamentou que a cidade não assuma a ligação com o escritor português: “É fundamental sensibilizar as pessoas acerca da passagem de Eça por Leiria”, disse.

A encerrar a noite, na iniciativa ‘O Som das Minhas Palavras’, Vítor Nogueira, entoou algumas canções escritas e compostas por Zeca Afonso, entre elas a Canção de Embalar e Milho Verde.

Leitão com sabor a jazz

A tarde de sábado, dia 2, ficou marcada pela apresentação do leitão da Boa Vista. A confecionar o leitão, esteve António Azoia, do restaurante Morgatões. Conforme explicou, o que faz diferir este leitão dos outros é a forma como é cozinhado: o leitão é “assado aberto, barrado com um molho especial e fica mais seco”.

A iniciativa promovida pela Escola Profissional de Leiria foi aplaudida pelo representante dos Morgatões, que considera que a integração do ‘Espaço Gourmet’ no Mercado do Livro “atrai a população” porque “junta a gastronomia com a literatura”.

A tarde contou ainda com a animação da Playlist 94 FM que esteve a cargo da diretora executiva do Região de Leiria. Por uma hora, Patrícia Duarte assumiu o papel de Dj. Apesar da inexperiência, conseguiu pôr em prática os seus dotes, partilhando os seus gostos musicais com o público: jazz, pop, rock, com temas de Amy Winehouse a Bill Withers.

Luísa Ducla Soares no Mercado do Livro

Um espaço. Uma autora. Duas paixões. Luísa Ducla Soares foi a convidada deste sábado da rúbrica ‘No mercado do livro com…’. Estivemos à conversa com a escritora, que nos falou da sua recente obra «O meu primeiro Eça».

Porque é que gosta de escrever para crianças?

Eu sempre gostei de inventar histórias para crianças. Comecei a escrever para crianças quando tinha 10, 12 anos. Aos 10 anos comecei a fazer poemas e aos 12/13 anos comecei a escrever histórias, e depois nunca mais parei. Esta é a paixão pelas crianças e a paixão pela literatura. É um 2 em 1.

O que significa, para si, enquanto entusiasta da obra de Eça de Queirós, ter a oportunidade de escrever esta obra?

Já é o quarto livro que eu faço sobre Eça de Queirós. Primeiro, a Câmara de Lisboa pediu-me para escrever sobre o Eça para as crianças, e eu fiz um livro sobre a infância dele, e sobre a Rosa, uma personagem de Os Maias. Eça passou algum tempo no sítio que é hoje a Biblioteca de Lisboa, nos Olivais, e portanto, procurei reviver um pouco esse tempo em que ele era criança. Depois fiz um projeto que gostei muito, que foi passear em Lisboa com o Eça. Estive a reler todos os romances, a ver onde é que moravam todas as personagens – praticamente estão limitadas à parte central do Chiado – a casa em que o Eça tinha morado com os pais, no Rossio. Procurei também a casa de Antero de Quental, de Oliveira Martins, de todos os seus amigos e os cafés que ele frequentava. Então, organizei com a Câmara passeios para estudantes dos últimos anos do 3º ciclo e também para adultos. Passear por Lisboa com Eça é uma coisa engraçada.

Acresce que as crianças não conhecem Eça, e apeteceu-me fazer uma adaptação dos seus contos que têm temáticas que acho que interessam mesmo às crianças, embora sejam talvez um pouco difíceis para elas. Em todo o caso, procurei ser o mais próxima possível da sua linguagem, desvirtuado o mínimo possível do seu estilo. Adaptei, portanto, seis contos do Eça.

Agora, fizeram-me o pedido para fazer «O Meu Primeiro Eça». Com a minha paixão, e também porque já tinha tanto material guardado, tive o maior gosto em voltar ao meu amigo Eça.

E o que a fez apaixonar pela escrita de Eça de Queirós?

Várias coisas. Uma delas é a sua permanente atualidade, porque embora ele escrevesse num determinado período, não perdeu a atualidade como Camilo [Castelo Branco], por exemplo. Acho que Camilo fala de situações e de sentimentos que já não têm nada a ver com a realidade. Claro que nós sabemos que as coisas passadas com Eça de Queirós foram passadas no tempo dele, mas ele tem uma modernidade que faz com que elas se mantenham interessantes hoje. Depois, com a sua maneira de escrever, acho que realmente é um dos maiores prosadores da literatura portuguesa. Ao mesmo tempo, tem uma linguagem acessível. Tem também o que para mim é muito importante, um humor de certa maneira doce e sarcástico, que poucos ou nenhum têm.

Julga que os jovens estão desinteressados pela leitura?

Não acho que isso seja real. Eu acho que as crianças no primeiro ciclo se interessam imensamente pela leitura, muito mais do que no passado, porque estas crianças têm nas próprias escolas pessoas que fazem com que elas se interessem pelos livros. Não têm só as professoras, como as bibliotecas já bastante razoáveis e em muitas delas, têm bibliotecárias que fazem uma permanente animação das bibliotecas e que conseguem cativar muitíssimo os alunos.

No segundo ciclo, ainda há interesse pela leitura, mas a partir do 7º ano ele desaparece. Acho que isso acontece por várias razões. Por um lado porque os professores já não têm tanta influência sobre eles – o professor primário tem muita influência. A partir daí, eles gostam de ser independentes e de fazer tudo ao contrário daquilo que lhes sugerem. Depois, estão apaixonados pelos computadores. O que não quer dizer que não leiam! Eles leem. Também é uma coisa errada dizer que o jovem não lê se ele não lê um livro. Ao longo da história, nem sempre aquilo que se lia era em livros: havia códigos, folhas de pergaminho enroladas e havia quem escrevesse em tijolos e em pedras. Acho que lá por o livro ser escrito num computador, não deixa de ser um livro. Além disso não leem jornais, mas leem blogs. E há blogs interessantíssimos. Uns que até são das próprias escolas, outros são de adultos, outros de adolescentes. Há blogs só de poesia, outros que apresentam narrativas diversas, outros que falam imenso sobre viagens, outros que são uma espécie de diários onde os adolescentes se reveem. Não acho que isso seja nada contra o livro. Se eles lerem, se contactarem com a língua, se pensarem, na realidade, não há problema.

Espaço autor marca 4º dia da feira

O dia 2 de junho ficou marcado pela presença de autores no Mercado do Livro, que compuseram a rúbrica ‘Espaço Autor’.

O relógio marcava as 15h30 e David Soares já se encontrava no espaço FNAC, onde esteve a promover as suas mais recentes obras «Batalha» e «Evangelho Enforcado». O eclético escritor de romances, contos e essencialmente de banda desenhada, onde já foi inclusive distinguido enquanto melhor argumentista nacional, afirma que “é sempre gratificante receber prémios” mas não trabalha a pensar nisso. Ao retratar temas de história e de esoterismo, pretende “desafiar o leitor e obrigá-lo a um trabalho de casa” visto que “o livro não lhe vai dar tudo de bandeja”.

Às 16h, na zona da livraria Boa Leitura, foi a vez de Manuela Ribeiro apresentar o seu “primeiro filho”, que é como descreve a sua obra «Um rapto em Londres». Esta “escritora nas horas vagas” explica que criou o livro porque sentiu que faltava dar a conhecer aos alunos a componente cultural da língua inglesa – “não há tempo na sala de aula”. Nesse sentido, este livro é como um roteiro cultural de Londres.

A autora de livros infanto-juvenis diz que optou por esta escrita porque abrange o tipo de público que está “habituada”, enquanto professora, e porque se diverte muito “com este tipo de literatura”. Nas suas obras, acaba também por colocar “muitas vivências de quando era pequena” e também de experiências do dia-a-dia: “episódios que aconteceram ao meu filho quando era pequenino, coisas que acontecem na minha escola e acabo por introduzir na narrativa”, explica.

Ainda nesta área, às 17h, o psicólogo Paulo José Costa deu a conhecer a recente publicação na qual é coautor, «Juntos no Desafio». “É um livro que foi escrito com o propósito de auxiliar os pais de crianças com hiperatividade e problemas de comportamento, para os orientar com estratégias que vão ao encontro das dificuldades sentidas no dia-a-dia”, indicou. Para a realização deste “relatório estruturado” baseou-se “na experiência clínica” que foi desenvolvendo, juntamente com as restantes autoras da obra, Susana Heleno e Carla Pinhal: “Baseamo-nos nas dificuldades mais apontadas nas consultas”.

 

Domingo, último dia do Mercado do Livro, mais autores dão a conhecer o seu trabalho, nas várias livrarias presentes na feira.

Mercado do livro mais inclusivo

O Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) do Instituto Politécnico de Leiria está presente na edição deste ano do Mercado do Livro.

Tornar o Mercado do Livro mais inclusivo é o objetivo do centro. Numa sala específica, o CRID disponibiliza “um conjunto de equipamentos que permite a uma pessoa com deficiência visual chegar à feira e interagir com o computador, através de um software adaptado”, explica Célia Sousa, docente na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais e responsável pelo projeto. O espaço dispõe ainda outro tipo de equipamentos como tecnologia “que permite às pessoas com deficiências motoras poderem aceder ao computador, através de uma simples câmara de infravermelhos”, refere Célia.

Estão também em exposição, nesta feira, alguns dos livros que o CRID tem vindo a desenvolver: “Temo-nos vindo a dedicar a adaptar livros que já existem e a criar novos livros adequados a crianças com algumas deficiências, nomeadamente com autismo, graves problemas intelectuais e com paralisia cerebral”, explica a professora da área na educação especial.

A última publicação deste centro intitula-se Comunicação Aumentativa e pretende desmistificar a comunicação por símbolos, que, segundo Célia Sousa, ainda está ligada à deficiência.

Manhã Pedagógica

O Mercado do Livro iniciou o quarto dia com uma oficina pedagógica «A Vaca Matilde e seus amigos» e «Animais aos círculos» pelo Agromuseu Dona Julinha.

Com recurso a jogos didáticos e ‘dedoches’ (fantoches de dedo), realizados no local com material reciclado, a oficina apresentou várias histórias sobre a vida real na quinta, em torno da sua mascote a Galinha Ortigas e sua melhor amiga, a Vaca Matilde.

Espera-se mais animação infantil nesta tarde de sábado.