Exposição Geral “Produto Próprio – Colaborações entre artistas plásticos e a indústria cerâmica da SECLA”

A Exposição

A presente exposição incide sobre as colaborações entre artistas e indústria cerâmica ensaiadas nas décadas de 1950 e 1960 nas Caldas da Rainha. Os exemplos apresentados reportam-se à SECLA, uma fábrica de faiança que esteve activa entre 1945 e 2008. Escolheu-se uma amostra representativa, mas não exaustiva, dos autores envolvidos nessas colaborações e dos trabalhos delas resultantes.
SECLA é a abreviatura de Sociedade de Exportação e Cerâmica Limitada. A empresa sucedeu em 1947 à Fábrica Mestre Francisco Elias, criada dois anos antes. Vocacionada para a exportação, a SECLA deu prioridade à inovação, tanto nos processos técnicos, como nos modelos de louça e respectiva decoração. Afastou-se da tipologia de produtos correntes na faiança das Caldas, de inspiração naturalista, respondendo aos novos gostos dos consumidores europeus e americanos e introduzindo o conceito de design na sua produção.
Nos primeiros tempos da SECLA, a direcção técnica e artística foi exercida por Alberto Pinto Ribeiro, fundador da empresa. A partir de 1954, essa função foi desempenhada por Hansi Staël, pintora de origem húngara. Entre 1959 e 1964, essa responsabilidade foi atribuída ao escultor José Aurélio. Sob a égide de todos eles, diversos artistas portugueses foram acolhidos na SECLA para realizarem experiências em cerâmica. Também procuraram a fábrica, neste período, jovens estrangeiros que pretendiam fazer estágios de aprendizagem em fábricas de cerâmica após a conclusão dos seus cursos artísticos.
Motivações distintas impulsionavam os trabalhos destes artistas, desde os que pretendiam exercitar a pintura e a decoração em produtos cerâmicos, aos que procuravam na plasticidade da pasta resposta aos seus projectos na escultura. Outros ainda era o design que os tentava. Destas experiências poderiam resultar peças únicas, peças susceptíveis de serem editadas em pequenas séries, e, até, modelos que entrassem na produção industrial.
Para a empresa, a esta presença de artistas ficava associado um fator de prestígio: era uma prática corrente nas fábricas que pretendiam ter a preferência entre o gosto moderno dos consumidores. Algumas das peças acabariam por ser vendidas, embora o aspeto da rentabilidade do investimento não fosse aqui dominante. Acreditava-se, por outro lado, que, na hipótese de algumas das propostas artísticas serem adaptáveis à fabricação em série, este pudesse ser o caminho para vir a ter um produto próprio que individualizasse o seu catálogo em relação ao dos concorrentes.
A esta prática na SECLA deu-se o nome de Estúdio. O Estúdio não era propriamente um espaço dedicado, mas uma condição de acesso dos artistas em trabalho temporário aos saberes, equipamentos e apoios técnicos especializados na fábrica. Entre estes apoios, o mais importante foi o recurso ao saber de Picas do Valle, um oleiro rodista natural de Barcelos. Este conceito de Estúdio era tão amplo que nele couberam os próprios administradores da SECLA – Alberto Pinto Ribeiro e Fernando da Ponte e Sousa –, bem como os artistas contratados pela fábrica, os já referidos consultores Hansi Staël e José Aurélio, ou Ferreira da Silva e Herculano Elias. O Estúdio era afinal um laboratório criativo da SECLA, funcionando em paralelo com o circuito fabril, mas mantendo com ele articulações permanentes.

João B. Serra

 

Exposição Geral

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