Família de géneros

A família de géneros corresponde a uma forma de agrupar géneros segundo relações de semelhança no que respeita ao objetivo sociocomunicativo geral comum e, consequentemente, na estruturação interna dos textos que lhe dão corpo. A designação usada para cada família reflete, tipicamente, o propósito em questão. Este é um conceito inteiramente alinhado com os estudos de género da Escola de Sydney da Linguística Sistémico-Funcional.

Veja-se alguns exemplos. A família das estruturações históricas constitui o conjunto dos géneros que visam informar por meio da organização temporal de acontecimentos. A família dos procedimentos compreende os géneros que visam informar sobre como fazer algo, isto é, géneros que orientam a execução de atividades práticas. A família das explicações inclui o conjunto de géneros que servem o objetivo de identificar e apresentar nexos de causalidade entre eventos ou fenómenos. 

Os géneros pertencentes a uma dada família distinguem-se nos seus objetivos específicos. Assim, quando se olha para a estruturação interna de cada género, encontra-se uma propriedade estrutural comum: a partilha de uma parte da estrutura interna, que reflete o facto de serem da mesma família. Ao mesmo tempo, também existem diferenças na estrutura interna, que refletem a especificidade de cada género. Na designação da família usa-se geralmente a forma plural para referir o género (a família dos/as), enquanto para a identificação de um dado género se usa a forma no singular.

Considere-se o caso das estruturações históricas. Vê-se abaixo a representação esquemática desta família de géneros, com um recorte do mapa geral dos géneros escolares elaborado no âmbito do projeto europeu Tel4ELE (o relatório sobre a participação de Portugal está acessível nesta hiperligação).

Figura 1. Família das estruturações históricas (a partir de Caels, Barbeiro & Gouveia, 2020).

Segundo a figura, a família inclui quatro géneros: relato autobiográfico, relato biográfico, relato histórico e explicação histórica. Todos estes géneros permitem dar informação estruturada sob a forma de etapas temporais – como se vê no esquema, à esquerda. Contudo, eles diferenciam-se consoante as etapas se situam na vida de um indivíduo, autor do texto ou não, ou na vida de uma entidade coletiva. Tratando-se da vida de uma entidade coletiva, distingue-se ainda se a organização é de pendor exclusivamente temporal ou causal. Estas particularidades refletem-se diretamente na estruturação interna dos textos de cada um destes géneros. 

A configuração de relações entre tipos de textos ou géneros textuais faz parte de vários modelos de descrição da diversidade de textos que circulam na sociedade e na escola, em particular. O conceito de família de géneros, tal como definido acima, enquadra-se na teoria do género desenvolvida no seio da Escola de Sydney, no âmbito geral da Linguística Sistémico-Funcional. O mesmo se aplica aos exemplos apresentados de famílias e géneros particulares. 

Referências

Caels, F., Barbeiro, L. F., & Gouveia, C. A. M. (2020). Géneros escolares segundo a Escola de Sydney: propósitos, estruturas e realizações textuais. Diacrítica 12(2): 13-32. DOI: https://doi.org/10.34624/id.v12i2.17433

Forma de referenciação sugerida 

Alexandre, M. F. (2024). Família de géneros. Retirado de: https://sites.ipleiria.pt/pge/familia-de-generos/