A palavra texto está indubitavelmente associada à palavra escrita, no sentido em que é a designação usada para referir um conjunto de enunciados escritos que se apresenta visualmente estruturado e impresso num suporte tipográfico. A relação íntima entre estas duas realidades, texto e escrita, não pode, porém, levar-nos a encarar o texto apenas como uma unidade da língua escrita, como se fazia tradicionalmente, porquanto a sua conceptualização enquanto unidade linguística diz respeito tanto à sua relação com a escrita quanto com a fala. De facto, o texto é uma unidade de uso linguístico e, como tal, reporta-se ao produto de um processo de codificação de significado particular, associado a um contexto, independentemente de tal processo se desenvolver no modo oral ou no modo escrito. Ou seja, enquanto produções verbais efectivas, os textos são realizações empíricas que se manifestam material e contextualmente quer nas ondas sonoras da oralidade quer no caracteres e formatações (orto)gráficas de uma página impressa ou manuscrita. A noção pode, portanto, ser aplicada a qualquer produção verbal contextualmente situada, oral ou escrita. Ao contrário dos textos escritos, cuja permanência na cultura é natural em função do carácter de preservação associado ao suporte usado (o papel, regra geral), os textos orais são apenas acessíveis no momento da sua produção, a não ser que os possamos gravar para assim os ouvirmos repetidamente após tal momento; neste caso, podemos ainda proceder à sua transcrição, submetendo-os a um processo de fixação semelhante ao da língua escrita, mas dele distinto, no sentido em que se tratará de uma transcrição (escrita) de língua oral e não de codificação directamente em língua escrita.
A conceptualização por detrás da noção de texto abarca ainda aspectos relativos à sua extensão, ao carácter dialógico da sua existência como unidade de comunicação e à sua dependência contextual. Porque existe sempre em função de um determinado contexto, de tal forma que podemos dizer que o contexto é parte integrante do mesmo, um texto pode ter extensão variável, desde apenas uma frase (“É proibido fumar”) ou um sintagma (“Não fumar”) até ao limite de frases que queiramos imaginar; a extensão pode ser pertinente para a caracterização de um texto, mas é irrelevante para a definição da noção de texto. Da mesma forma, um texto tem sempre um carácter dialógico, já que enquanto produção de linguagem, situada, tem um propósito comunicativo, existe em função de outrem que não o seu autor, se bem que esse outro possa ser ele próprio co-autor do texto, como acontece nas conversas, nos debates, etc.
Tal como não se restringem apenas ao modo escrito, os textos não se restringem apenas à modalidade verbal de expressão de significado, considerando que podem também fazer uso da modalidade visual de significação. É certo que a dimensão verbal tem reconhecidamente um lugar central e de referência na semiótica social, mas a dimensão visual não lhe fica atrás. A conjugação multimodal destas duas formas de significação no domínio do texto será diferente nas iluminuras medievais e na moderna publicidade, por exemplo, mas a interdependência de ambas num único processo de significação, num caso e noutro, permite-nos referir os conjuntos de tais produções como textos.
Sistematizando: um texto é o que produzimos quando comunicamos, pode ser falado ou escrito, pode ser individual ou colectivo, pode ser composto de apenas uma frase ou de várias, é um conjunto de significados apropriados ao seu contexto, tem um objectivo comunicativo e pode ser apenas verbal ou uma conjugação de diferentes modalidades de significação (verbal e visual, por exemplo), caso em que se tratará de um texto multimodal.
Forma de referenciação sugerida
Gouveia, C. A. M. (2022). Texto. Retirado de: https://sites.ipleiria.pt/pge/texto/