Género

O que se entende por “género”? A resposta exata a esta pergunta depende do posicionamento teórico adotado. Comparam-se aqui, brevemente, a abordagem proposta pela Escola de Sydney, que subjaz à maioria dos recursos atualmente disponíveis no Portal, com um conjunto de abordagens de origem europeia e americana, praticadas em Portugal e adotadas, por exemplo, no Corpus de Português Académico disponibilizado neste Portal.

A Escola de Sydney é uma corrente em Estudos de Género informada pela Linguística Sistémico-Funcional. Partindo de um trabalho de linguistas e educadores australianos na década de 80 do século passado, os princípios da Escola de Sydney são atualmente praticados em vários países. Visam, por um lado, a identificação e descrição dos géneros existentes na sociedade e, por outro, a conceção de intervenções pedagógicas informadas pelo conceito de género.

A Escola de Sydney encara os géneros como “tipos de texto que se caracterizam pelo seu uso e pela sua estrutura”. Entende também que os géneros estão associados a contextos sociais e culturais específicos. Particularmente profícuo tem sido o trabalho sobre os géneros utilizados em contextos educativos, em diferentes disciplinas e níveis escolares. Fala-se, neste caso, em “géneros escolares” ou “géneros académicos”. O primeiro termo refere-se sobretudo aos géneros presentes nos níveis de escolaridade obrigatória; o segundo, aos géneros do ensino superior (para ler mais sobre a abordagem da Escola de Sydney, clique aqui)

Noutros enquadramentos teóricos, os géneros são concebidos de maneira diferente. Estas diferenças, todavia, incidem mais nas classes contempladas e nas respetivas designações e menos na definição ou nos critérios que as permitem identificar.

No âmbito de disciplinas como a Linguística Textual e a Análise do Discurso (escolas de língua francesa), de teorizações como o Interacionismo Sociodiscursivo e de áreas de investigação como o Inglês para Fins Académicos, os géneros designam classes de textos que podem ser caracterizados de acordo com critérios múltiplos e heterogéneos. Ou seja, propriedades situacionais (ou externas) e propriedades textuais (ou internas) contribuem para definir e delimitar os géneros.

Entre as propriedades situacionais mais relevantes, contam-se a área de atividade socioprofissional em que um determinado género é usado, os papéis socioprofissionais de que os indivíduos estão investidos quando produzem um texto desse género e os objetivos que com ele pretendem atingir. As propriedades textuais mais importantes incluem os temas abordados nos textos de um dado género, a sua estrutura típica e aspetos de natureza estilístico-fraseológica, em particular a nível da seleção do léxico e das estruturas sintáticas.

Os géneros estão ancorados em atividades sociais e profissionais específicas. Os membros de uma dada comunidade socioprofissional têm à sua disposição um conjunto de géneros que podem usar para procurar atingir os objetivos inerentes a essa área. Por exemplo, os indivíduos que se dedicam ao jornalismo, servem-se de géneros como a notícia, o editorial, a reportagem, a entrevista, o artigo de opinião, a coluna, etc. Os indivíduos que desenvolvem atividades no ensino superior e na investigação científica têm ao seu dispor géneros escritos como o artigo científico, a tese de doutoramento, a dissertação de mestrado e o manual, e géneros orais como a conferência, a comunicação em encontro científico, a aula e a sessão de tutoria, entre outros. Ao produzir um novo texto, o falante adota e adapta as propriedades típicas do género em causa. Assim, cada novo texto é sempre construído com base num modelo de género (ou em mais do que um).

Nas sociedades atuais, são reconhecidas comunidades discursivas que desenvolvem atividades socialmente relevantes e que se destacam também pela produção de textos (orais e escritos). Além do jornalismo e do ensino e investigação científica, pode-se acrescentar a justiça, a literatura, a religião, a política, a publicidade, entre várias outras áreas de atividade em que a produção de textos é um aspeto central. A cada comunidade discursiva com estas características pode ser associado um determinado tipo de discurso, que engloba todos os textos produzidos no âmbito da respetiva área de atividade: o discurso jornalístico, o discurso académico, o discurso jurídico, o discurso literário, o discurso religioso, o discurso político, o discurso publicitário, etc.

Deste modo, os géneros podem ser integrados em determinados tipos de discurso: a notícia e o editorial no discurso jornalístico; o artigo científico e a conferência no discurso académico; o acórdão e o código no discurso jurídico; o romance e o soneto no discurso literário; o sermão e a encíclica no discurso religioso; etc.

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