Artigo científico

Um artigo científico é um texto que tem como objetivo divulgar conhecimento novo, produzido numa dada área disciplinar, e que apresenta uma investigação prévia, cujos procedimentos foram estabelecidos e validados pela comunidade académica à qual o artigo se destina. Geralmente, é publicado em revistas especializadas e indexadas (i.e, referenciadas em bases de dados segundo uma escala de qualidade), e foi revisto de forma anónima por especialistas da área.

Na sua constituição, o artigo científico deve corresponder a determinados horizontes de expectativas:

  • apresenta conteúdos pertinentes, de pendor informativo e argumentativo, uma vez que se destina a construir conhecimento novo e a convencer a comunidade disciplinar da sua validade;
  • organiza esses conteúdos conforme um dado plano de texto, que admite pelo menos duas variantes: o plano IMRD(C) ou o plano por TÓPICOS (ver infra);
  • utiliza o registo formal;
  • recorre a léxico especializado para objetos ou conceitos (por exemplo: isotopia – ácido bilirrubínico – algebróides de Lie – fibrilhação auricular – inflação a dois dígitos);
  • usa fraseologia metatextual (o presente trabalho destina-se a… – aplicou-se o método… – os resultados comprovam que…).

O artigo científico reconhece-se na sua disposição gráfica por estar materialmente delimitado pelo título e pela identificação explícita do/a(s) autore/a(s), acompanhada de (i) indicações institucionais (afiliação), (ii) resumo ou abstract[hiperligação] logo a seguir ao título, e (iii) lista de referências bibliográficas no fim. Além disso, será sempre referenciado de acordo com determinadas normas, assim que for publicado.

Estas convenções traduzem indiretamente algumas das propriedades acima referidas: o título e o abstract / resumopermitem a classificação do texto na área disciplinar e a identificação rápida dos seus conteúdos; a identificação da autoria, a afiliação e a lista de referências bibliográficas ajudam a validar a autoridade científica e conferem credibilidade ao próprio texto; a referenciação insere-o num circuito de circulação de conhecimento novo dentro da área disciplinar.

Para além destas propriedades comuns, os artigos científicos possuem outras mais específicas, decorrentes, antes de mais, dos conteúdos e da área disciplinar, que influenciam a escolha entre dois planos:

Plano IMRD(C), no qual os conteúdos resultam de investigação com alguma componente prática (experimentação, ensaio, simulação computacional ou estudo de caso, por exemplo) e se distribuem por secções que têm, em geral, as seguintes designações (ou outras sinónimas): 

  • Introdução (contextualização, enquadramento teórico e revisão da bibliografia ou estado da arte, apresentação de perguntas de investigação e/ou hipóteses teóricas);
  • Metodologia (métodos, modelos, protocolos e/ou procedimentos para obtenção de dados);
  • Resultados (descrição dos dados);Discussão (comparação dos dados com outros previamente existentes, comparação ou contraste com o conhecimento prévio, tal como se apresenta na Introdução, explicitação do seu significado e de como respondem às perguntas de investigação, confirmando ou infirmando a hipótese inicial); 
  • (eventual) Conclusão (retoma dos pontos principais, enumeração de limitações da investigação e/ou do próprio artigo, indicação de futuras linhas de pesquisa).

Plano por TÓPICOS, no qual os conteúdos resultam de uma investigação mais teórica, passível de apresentação de tipo ensaístico, como, por exemplo, os artigos que efetuam apenas uma revisão bibliográfica), e cujas secções, além da Introdução e da Conclusão, dependem dos temas e subtemas a desenvolver.

Embora haja tendência para associar o plano IMRD(C) a áreas disciplinares CTEM (Ciências – Engenharias – Tecnologias – Matemática) e o plano TÓPICOS a áreas disciplinares CSHH (Ciências Sociais e Humanas – Humanidades), não existe exclusividade, sendo a escolha ditada por uma conjugação entre o tipo de investigação efetuada, a área científica, a comunidade disciplinar e o contexto de publicação.

No enquadramento teórico do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart, 1997), o artigo científico constitui um género textual, reconhecível em diversos textos empíricos pelas propriedades acima elencadas, que resultam das práticas sociais de uma formação sociodiscursiva – a comunidade disciplinar da respetiva área científica.

No enquadramento teórico da Linguística Sistémico-Funcional (Halliday & Matthiessen, 2004), textos etiquetados como artigos científicos podem congregar vários géneros: o relato de procedimento (assim acontece com o plano IMRD(C), quando se relata uma experiência, ou uma simulação, por exemplo) [hiperligação] e o relato histórico (quando se reconstitui uma época através de uma sequência de eventos ligados pelo tempo) [hiperligação], entre outros possíveis. 

Leituras aconselhadas:

Cargill, M. & O’Connor, P. (2013). Writing Scientific Research Articles. Strategies and Steps. Wiley-Blackwell.

Macagno, P. & Rapanta, C. (2021). Escrita Académica. Argumentação. Lógica da escrita. Ideias e estilo. Artigos e papers. Pactor.

Forma de referenciação sugerida

Santos, J. V. (2024). Artigo Científico. Retirado de: https://sites.ipleiria.pt/pge/artigo-cientifico/