Caso 11: Organização do espaço de trabalho

Autores: Luís Filipe, Patrícia Pereira, Sandra Alves e Graça Seco

Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, Instituto Politécnico de Leiria

Referir este caso: Alves, S., Filipe, L., Pereira, P. & Seco, G. (2018). Organização do espaço de trabalho. In R. Cadima, I. Pereira, M. Francisco & S. Cunha (Coords.). 15 histórias para incluir. [Online]. Politécnico de Leiria: Leiria.

Para começar

Da raiz grega agkô ou angchö e do latim ango que significa apertar fisicamente e anxio ou anxius, que significa atormentar, a ansiedade apresenta-se como uma resposta essencial, protetora e adaptativa inerente a todas as culturas humanas e idades independentemente do género.

Considerada um estado emocional desagradável dirigido para o futuro, habitualmente a ansiedade desenvolve-se pela antecipação de um perigo/ameaça (interno ou externo) de difícil previsão e controlo. Com uma perceção subjetiva semelhante ao medo, a ansiedade pode manifestar-se através de sintomas vegetativos, cognitivos e/ou comportamentais que quando são intensos, repetitivos e prolongados no tempo causam desconforto, sofrimento e disfuncionalidade nas rotinas diárias de uma pessoa.

A ansiedade pode ser dividida em ansiedade-traço e ansiedade-estado, sendo a primeira uma característica mais estável e que define a personalidade de um indivíduo e a segunda considerada uma resposta a um acontecimento de vida e, por esse motivo, tende a não persistir para além da situação que o desencadeou.

Por ser protetora a ansiedade é positiva na vida de cada um de nós, mas dependendo da sua intensidade, frequência e dimensão poderá ser considerada patológica e deverá ser alvo de intervenção psicoterapêutica.

Para ler

Sou a Soraia e estou no 1º ano da faculdade. Até agora estou a gostar imenso do meu curso, da turma e até dos professores! O ambiente académico tem sido fantástico, mas há alturas em que o stress aperta. Muita matéria para estudar ao mesmo tempo, sobretudo na época das frequências… nada que não estivesse à espera.

Tenho superado bem os momentos de mais ansiedade, mas a minha amiga Maria tem apresentado algumas dificuldades em atingir os objetivos a que se propôs, nomeadamente conseguir ter notas com as quais se sinta satisfeita.

Desde o início do ano letivo, altura em que conheci a Maria e ficámos logo amigas, percebi que ela, apesar de superinteligente, parece às vezes desorganizada, mas “vai a todas”. Apesar de sairmos frequentemente à noite (isso também faz parte da vida académica!), somos assíduas nas aulas e mantemos os apontamentos organizados e atualizados. A Maria participa ainda ativamente em todas as reuniões de grupo para realizar trabalhos para as diferentes unidades curriculares e colabora na organização das várias atividades propostas pelos nossos professores. Além disso, tanto eu como a Maria pertencemos à associação de estudantes, mas ela integra-a como membro da direção, o que exige muita dedicação e esforço.

Com o final do 2.º semestre e com as avaliações a começar, a Maria tem tido dificuldades em concentrar-se a estudar e em dar resposta a todas as solicitações. Um dos desabafos que ela tem comigo prende-se com o facto de não saber o que fazer em primeiro lugar, pois considera que tudo é importante e que tem de dar resposta, sem falhar, a todas as atividades que tem para fazer. Isso faz com que se sinta mais ansiosa, tenha muita dificuldade em manter-se concentrada e que até tenha visitado menos vezes a família.

Com tanta irritabilidade da Maria até nos chateámos e por isso tive uma conversa franca com ela.

– Maria, tu não andas bem. O que se está a passar contigo?

– Sinto que não tenho tempo para tudo Soraia. Os professores sobrecarregam-nos com atividades, a associação de estudantes está a “bombar” e ninguém quer fazer nada… Quando estou a tentar estudar toda a gente me telefona e se desligo o telefone enviam mensagem pelo chat do facebook… Estou cansada e não tenho vontade de fazer mais nada! Mas não posso dizer que não porque já assumi a responsabilidade e todos estão a contar comigo.

– É verdade Maria… Nem sei o que te dizer…

– Além disso, não percebo porque é que vocês têm tanta pressa em fazer os trabalhos de grupo. Ainda temos tempo, mas andam sempre a chatear-me… E depois passo o tempo a fazer trabalhos, não estudo e por isso não estou satisfeita com os resultados que tive no 1.º semestre. Não deixei nenhuma Unidade Curricular para trás mas tive notas miseráveis em comparação com os meus resultados do secundário.

– Que exagero Maria! Tu até tens tido boas notas! E a questão do trabalho de grupo, temos de tentar respeitar o ritmo de todos. Não é fácil, mas na próxima reunião podemos falar sobre isso. O pessoal não gosta de deixar estes trabalhos para a última, senão concentra-se com as frequências e é pior.

– Mas sinto-me cansada… Não é fácil participar nas atividades da associação de estudantes, ir às aulas práticas, responder aos professores e organizar os apontamentos. Tenho muita coisa para ler, já que escrevo tudo o que os professores dizem e, depois na semana antes dos testes, tenho que ler tudo e escrever tudo outra vez para ver se fica alguma coisa. Eu não era assim! Antigamente conseguia memorizar tudo com facilidade! Juro-te: estou a ficar preocupada…

– A sério?

– Sim, além disso, antes dos testes não durmo nada, mas não posso fazer nada contra isso, tenho que ler tudo, várias vezes, ando sempre a ser interrompida, quando me sento na mesa da sala para começar a estudar, estão sempre a mandar-me mensagens e a ligar, e isso tira-me sempre tempo, ter que responder a tudo e responder aos telefonemas. Anteontem tive um ataque de choro que não consegui controlar. A sorte é que ninguém lá em casa reparou… Não quero que ninguém saiba que não estou a conseguir dar conta do recado!

– Tens de ter calma Maria. Penso que estás muito ansiosa, mas certamente haverá uma solução. Vou tentar ajudar-te. Tenho a certeza que vais encontrar uma solução, além do chazinho de tília que podes beber todas as noites antes de te deitar. 

De facto, a Maria está demasiado ansiosa.

Como poderá a Soraia ajudá-la?

Todas as questões que ela apresenta não farão parte do processo normal de estar no Ensino Superior?

Para equacionar

Na base do problema

  • Gestão do tempo
  • Apoios ao estudante
  • Lidar com a ansiedade
  • Estratégias de aprendizagem
  • Papel dos professores e da instituição

Para debater

1. Será que a Maria pode melhorar os seus resultados?

O que pode a Maria fazer para melhorar os seus resultados?

Como é que mudamos efetivamente o nosso comportamento? É só querer? Ou é necessário proceder de outra forma?

2. Será que a Maria só se deve preocupar em estudar?

Ao longo da nossa vida deparamo-nos com várias decisões, nomeadamente na necessidade de definir prioridades e organizar o nosso tempo. Será que só podemos fazer uma coisa de cada vez? Ou será possível conjugar várias atividades?

Quando pensamos na vida académica e profissional, a pessoa só estuda e/ou trabalha? Ou deve investir noutras atividades? O que acha? Porquê? Será que fazer outras coisas para além do estudo traz vantagens para os estudantes?

3. Serão os estudantes capazes de se autogerirem?

Estarão as escolas a preparar os seus estudantes de forma a serem capazes de gerir as suas prioridades e condições de trabalho?

Estarão os estudantes preparados para lidar com a autorregulação?

4. A família prepara os seus elementos para lidar com a ansiedade?

Em que medida a família pode preparar, ou deve preparar, uma pessoa a lidar com a ansiedade?

5. A ansiedade é algo que se deve reduzir ao mínimo possível?

Será a ansiedade útil? Ou melhor… até que ponto se deve reduzir a ansiedade? Será ou não importante “desligar” a ansiedade e deixar de senti-la, ou ela terá um papel importante na vida de cada pessoa?

A ansiedade é um processo natural de defesa e preparação do corpo humano. É normal sentir ansiedade. Tem um papel importante, prepara e ajuda a pessoa para o que tem de enfrentar. O que não é normal é essa ansiedade afetar a nossa vida e o nosso desempenho ocupacional. Caso afete, o melhor é procurar um especialista.
Liliana Bernardo

Podemos e devemos fazer várias coisas em simultâneo, tanto enquanto estudantes, como enquanto trabalhadores. Há vários estudos de investigação que têm concluído que os estudantes que frequentam atividades extracurriculares têm normalmente melhor desempenho académico do que aqueles que se dedicam apenas aos estudos (…) tal deve-se ao desenvolvimento de competências transversais como a gestão de tempo, a autorregulação, a resolução de problemas, entre outros.
Marta Costa

Para reter

Considerando que cada caso é um caso e que as soluções adotadas para uma situação poderão não ser as indicadas para outras, deixamos um possível desfecho, baseado numa situação real.

A Soraia propôs à Maria falar com um dos psicólogos do Serviço de Apoio ao Estudante. De facto, a Maria precisa alterar alguns comportamentos que apresenta para conseguir melhorar os seus resultados e, deste modo, ficar mais satisfeita com eles. É normal no Ensino Superior passar por várias situações, dilemas, dificuldades e tentações, todo o processo faz parte e é necessário para promover a autonomia pessoal.

Tendo em conta as dificuldades da Maria, convém em primeiro lugar esclarecer alguns aspetos importantes: a Maria não deve abdicar das suas atividades relacionadas com a academia, participar nas atividades da associação de estudantes, conviver com os colegas e amigos, aproveitar as várias oportunidades que vão surgindo. No entanto, ainda que estes aspetos sejam relevantes, a Maria deve definir prioridades e perceber que não consegue fazer tudo o que quer ou gosta ao mesmo tempo, assim deve organizar melhor o seu tempo e pensar quando deve divertir-se e quando deve estudar.

Tendo em conta estes pressupostos estas são as medidas mais importantes:

  • Colocar num calendário as datas relevantes e atividades mais importantes, de forma a saber melhor quando se pode divertir e quando deve trabalhar mais;
  • Aprender a tirar apontamentos, não deve escrever tudo o que é dito numa aula, mas sim apenas os apontamentos essenciais, de forma a estar mais atenta;
  • Deve começar a estudar desde o início do semestre e não apenas nas vésperas das avaliações;
  • Definir objetivamente quais as notas que pretende em todas as unidades curriculares de forma a perceber melhor quando pode ficar satisfeita com os seus resultados;
  • Deve perceber que quanto mais depressa terminar os trabalhos de grupo, mais tempo terá para outras atividades, daí ser necessário colaborar rapidamente com os colegas e participar nos trabalhos mais ativamente;
  • Quando se estuda para uma avaliação deve-se recorrer ao método PLEMA (Pré-leitura; Leitura; Esquematização; Memorização; Autoavaliação);
  • Quando estuda deve desligar o telefone para não ser interrompida e ligá-lo nos intervalos apenas;
  • Deve escolher um local sossegado, de preferência um escritório ou numa secretária no quarto, onde terá menos estímulos que comprometam a sua concentração;
  • Antes de um teste deve dormir convenientemente, um dos aspetos que interfere com a memória é a falta de sono.

Para consultar

Referências

Gouveia, J. P.; Carvalho, S. & Fonseca, L. (2004). Pânico – da compreensão ao tratamento (2ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores.

Serra, A. (2007). O Stress na vida de todos os dias (3ª ed.). Coimbra: Minerva.

Jacofsky, M., Santos, M., Khemlani-Patel, S. and Neziroglu, F. (2013). Biological Explanations of Anxiety Disorders: Part II. [online] Mentalhelp.net. https://www.mentalhelp.net/articles/biological-explanations-of-anxiety-part-ii/

Sugestões de pesquisa

Cottrel, S. (2008) The study skills handbook (3rd edition). New York: Palgrave Macmillan.

Rosário, P., Núñez, J. & Pienda, J. (2006). Comprometer-se com estudar na Universidade: Cartas do Gervásio ao seu umbigo. Coimbra: Edições Almedina.

Seco, G., Pereira., A. P., Filipe, L., Alves, S. & Duarte, A. L. (2012) Como ter sucesso no Ensino Superior. Lisboa: Pactor