EMDA 1 – 14 de julho de 2021

O apresentador

Miguel Moiteiro Marques
Universidade Aberta / CELGA-ILTEC da Universidade de Coimbra

Biografia
Ex-jornalista (1989-2003), formou-se como professor de português e inglês na Faculdade de Letras de Lisboa em 2006. De 2006 a 2011, foi leitor do Instituto Camões na Venezuela e na Nigéria. De regresso à FLUL, concluiu o mestrado em PLE/PL2 (2017) e trabalhou como docente de PLE (2012-16/2020-21). Iniciou o doutoramento em Estudos Portugueses na Universidade Aberta em 2018, quando foi leitor do Instituto Camões na Universidade da Namíbia (2017-20).

CV
https://orcid.org/0000-0001-8738-8682

Miguel Moiteiro Marques

A apresentação

Título
O género dissertação de mestrado em Portugal: propriedades estruturais,
estilísticas e temáticas de textos das áreas das ciências e das humanidades

Resumo
Serão apresentadas as linhas gerais do projeto de tese que está a ser preparado no doutoramento em Estudos Portugueses (especialidade Linguística). O objeto de estudo são textos do género académico dissertação de mestrado apresentados em Portugal em duas áreas disciplinares tradicionalmente distintas (Hyland, 2004): Ciências Naturais e Tecnológicas, Engenharias e Matemática (CTEM) vs. Ciências Sociais e Humanas e Humanidades (CSHH). Os objetivos principais são identificar as suas propriedades estruturais, estilísticas e temáticas e assinalar as diferenças associadas às áreas disciplinares em que se inscrevem, explorando a relação entre o género dissertação de mestrado e a construção do conhecimento científico especializado em diferentes áreas disciplinares.

Toma-se como base um quadro teórico-metodológico compósito, com contributos de diversos modelos teóricos: Análise Textual dos Discursos (Adam, 2001); escola francesa de Análise do Discurso (Maingueneau, 2014); Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart, 2006) e Inglês para Fins Académicos (Swales, 2004). Nesse sentido, assume-se que as práticas discursivas de cada comunidade estão ligadas às atividades nelas desenvolvidas e aos papéis sociais desempenhados pelos seus membros, configurando os géneros textuais disponíveis dentro do grupo (Bronckart, 2006). Dado que os géneros funcionam como modelos para textos que emergem em contextos de práticas socioculturais particulares, as realizações empíricas desses modelos podem sofrer modificações que, caso venham a ser adotadas pela maioria da comunidade, serão inovações integradas no género textual.

No caso da comunidade académica, os géneros textuais visam autenticar conhecimento, estabelecer hierarquias e sistemas de recompensas e manter a autoridade cultural da área disciplinar, funcionando como veículos de construção, afirmação e legitimação do conhecimento (Hyland, 2004). Como tal, refletirão a perspetiva ideológica do mundo em cada área disciplinar, as suas assunções sobre a natureza das coisas e sobre metodologias, o sistema hierárquico interno de relações de poder e o corpo de conhecimento doutrinário da disciplina sobre a realidade externa (Sullivan, 1996). Estas práticas socioculturais particulares refletir-se-ão empiricamente nos textos ao nível da escolha da língua inglesa ou portuguesa na escrita (Bennett, 2014), dos modelos estruturais globais dominantes (Swales, 2004; Hyland, 2004) e das componentes de género (Adam, 2001) das dissertações de cada área disciplinar, bem como na dimensão e estruturação retórica das suas secções de introdução (Bunton, 2002; Swales, 1990) e de conclusão (Nguyen & Pramoolsook, 2016; Santos & Silva, 2020).

Vários trabalhos têm sido publicados nos últimos anos em Portugal tendo como objeto de estudo o artigo científico e a tese de doutoramento (c.f. Santos & Silva, 2019, 2020, 2021, entre outros). No caso da dissertação de mestrado, diversas secções têm sido objeto de pesquisa noutros países, com foco nos seus movimentos retóricos (c.f. Nguyen & Pramoolsook, 2016, entre outros).  Em Portugal, o estudo exploratório feito por Silva (Silva, 2013) aponta para diferenças nos textos inscritos em diferentes áreas de conhecimento, mas não há, até agora, um conjunto sistemático de investigações sobre a dissertação de mestrado. O projeto de trabalho que agora se apresenta visa colmatar esta lacuna e confrontar os dados obtidos com a análise existente sobre as teses de doutoramento de diferentes áreas científicas. 

Bibliografia

  • Adam, J.-M. (2001). Types de textes ou genres de discours ? Comment classer les textes qui disent de et comment faire ? Langages, 10–27. https://www.persee.fr/doc/lgge_0458-726x_2001_num_35_141_872
  • Bennett, K. (2014). The semiperiphery of academic writing: Discourses, communities and practices. Springer.
  • Bronckart, J.-P. (2006). Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. Mercado de Letras.
  • Bunton, D. (2002). Generic moves in Ph. D. thesis introductions. In J. Flowerdew (Ed.), Academic discourse (pp. 57–75). Routledge.
  • Hyland, K. (2004). Disciplinary discourses, Michigan classics ed.: Social interactions in academic writing. University of Michigan Press.
  • Maingueneau, D. (2014). Discurso e análise do discurso. São Paulo: Parábola Editorial.
  • Nguyen, L. T. T., & Pramoolsook, I. (2016). A move-based analysis of TESOL master’s thesis conclusion chapters by Vietnamese postgraduates. Global Journal of Foreign Language Teaching, 6(1), 02–12. https://doi.org/10.18844/gjflt.v6i1.973
  • Santos, J. V., & Silva, P. N. da. (2019). Itinerários da escrita académica no ensino superior : Um projeto de investigação aplicada sobre textos e géneros 1 Itinerários da escrita académica no ensino superior : Um projeto de investigação aplicada sobre textos e géneros. In CELGA-ILTEC/ESECS-IPL (Ed.), Discurso Académico: uma área disciplinar em construção (pp. 265–286).
  • Santos, J. V., & Silva, P. N. da. (2020). In my ending is my beginning : as estruturas argumentativas das secções finais em teses de doutoramento como ponto de partida para novas argumentações. In Z. G. O. de Aquino, P. R. Gonçalves-Segundo, & M. A. G. Pinto (Eds.), Argumentação e discurso: fronteiras e desafios (Issue June, pp. 188–207). FFLCH/USP.
  • Santos, J. V., & Silva, P. N. da. (2021). Dinâmicas de género e de texto : entre plano convencional e plano ocasional nas teses de doutoramento da Universidade de Coimbra. IV GRATO – Conferência Internacional Sobre Gramática e Teto, February.
  • Silva, P. N. da. (2013). Parâmetros e marcadores do género “Dissertação de Mestrado”: análise de um corpus do português europeu. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 243–261. https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/7605/1/Paulo N Silva %282013%29 Parâmetros e marcadores do género dissertação de mestrado.pdf
  • Sullivan, D. (1996). Displaying Disciplinarity. Written Communication, 13(2), 221–250. https://doi.org/10.1177/0741088396013002003
  • Swales, J. M. (1990). Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge University Press.Swales, J. M. (2004). Research genres: Explorations and applications. Cambridge University Press.