O apresentador
Miguel Correia
Centro de Linguística da Universidade do Porto/Faculdade de
Letras da Universidade do Porto (Bolseiro de investigação FCT UI/BD/154480/2022)
É licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, mestre em Ensino de Português no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário e doutorando em Ciências da Linguagem na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, instituição na qual desempenha funções docentes como Assistente Convidado. Colabora com o PNL na produção de materiais didáticos para o projeto ‘Leitura Orientada em Sala de Aula’. Tem produzido investigação no âmbito da Linguística Educacional. Atualmente, é bolseiro de investigação FCT, encontrando-se a desenvolver, no Centro de Linguística da Universidade do Porto, o projeto intitulado “a reconfiguração gramatical nos manuais escolares de Português do Ensino Secundário: contributos do inventário das operações metalinguísticas”.
A apresentação
Título
Verbos de comando e operações cognitivas: análise de itens sobre morfologia de manuais do 7.º ano
Resumo
O presente trabalho centra-se em enunciados do âmbito do conhecimento explícito da
língua e elege como objeto de análise itens de um projeto editorial de Português Entre
Palavras, concebido para o 7.º ano, que integra o manual escolar e o caderno de atividades, distribuídos aos alunos em suporte físico e digital, e é validado por uma entidade externa. O enquadramento teórico deste estudo, que se situa no escopo da Linguística Pedagógica (Hudson, 2020), sustenta-se na componente gramatical contemplada nos manuais escolares, nos testes de avaliação sumativa do Ensino Básico e nas provas de avaliação externa realizadas à saída da escolaridade obrigatória (Tapadas, 2016; Silva, 2017; Rodrigues, Duarte & Silvano, 2018; Rodrigues & Duarte,
2022).
Objetivamos, assim, responder à seguinte questão de partida: de que forma os verbos de comando dos itens sobre morfologia presentes em manuais escolares de Português do 7.º ano manifestam a complexidade das operações cognitivas a realizar pelos alunos?
Neste sentido, reunimos um corpus composto por cem enunciados dos manuais
suprarreferidos no domínio da morfologia que pertencem a categorias distintas: itens de seleção (escolha múltipla, completamento, associação, verdadeiro e falso) e itens de
construção (completamento, resposta curta e resposta restrita), conforme a tipologia
proposta por Neves & Ferreira (2015). Através de uma abordagem interpretativa,
recorremos a três procedimentos de análise: a) identificação dos verbos de comando e
operações cognitivas; b) análise dos conteúdos gramaticais associados aos verbos
operatórios; c) levantamento das propriedades sintáticas dos enunciados que contêm
estruturas alternativas à fórmula prototípica do verbo operatório seguido do objeto
direto.
Os resultados demonstram que as tarefas se restringem a um conjunto limitado de
operações. A frequência de uso dos verbos operatórios aponta para operações de reconhecimento, identificação e reprodução de conhecimento declarativo em detrimento da manipulação de unidades linguísticas, da síntese e da aplicação a situações novas, como demonstram os enunciados que apresentam os quatro verbos mais recorrentes do corpus: “Identifica”, “Indica”, “Sublinha” e “Escolhe”.
Reflete-se, por fim, sobre a necessidade de uma abordagem integrada da gramática que privilegie o entrecruzamento de processos e operações, afastando-se da exercitação estéril de metalinguagem que se verifica na linguagem instrucional da gramática destes
recursos.
Palavras-chave: manuais escolares; verbos de comando; operações cognitivas.
Referências bibliográficas
Hudson, R. (2020). Towards a pedagogical linguistics. Pedagogical Linguistics, 1 (1),
8–33. DOI: https://doi.org/10.1075/pl.19011.hu.
Neves, A., & Ferreira, A. (2015). Avaliar é preciso? Guia Prático de avaliação para
professores e formadores. Guerra e Paz.
Rodrigues, S. V. (2019). Conhecimento gramatical avaliado à saída da escolaridade
obrigatória: uma análise de exames nacionais do ensino secundário. Revista da
Associação Portuguesa de Linguística, (5), 41-64. DOI: doi.10.26334/2183-
9077/rapln6ano2019a5.
Rodrigues, S. V., & Duarte, I. M. (2022). Avaliação do conhecimento explicito da
língua: verbos de comando de provas do Ensino Básico, Tejuelo, 35 (2), 137-172.
DOI: https://doi.org/10.17398/1988-8430.35.2.137.
Rodrigues, S. V.; Duarte, I. M.; & Silvano, P. (2018). O verbo explicar em enunciados
de testes de avaliação do ensino básico: estudo de valores semânticos e pragmáticos.
In J. Veloso, J. Guimarães. P. Silvano, R. Sousa Silva (Orgs.), A linguística em
diálogo: volume comemorativo dos 40 anos do Centro de Linguística da
Universidade do Porto (pp. 361-393). Disponível em
https://hdl.handle.net/10216/119704 (acesso em 14 mar. 2023).
Silva, A. C. (2017). Os novos manuais escolares de Português do 7.º ano e a
(re)construção do conhecimento gramatical: Conteúdos gramaticais e operações
(meta)linguísticas. Diacrítica, 31 (1), 15. DOI: https://doi.org/10.21814/diacritica.38.
Tapadas, P. (2016). Qual o histórico de itens gramaticais? Seminário “Avaliar o
conhecimento gramatical”. Faculdade de Letras de Universidade de Lisboa. 15 de
fevereiro de 2016.